quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Do direito de existir na Igreja


Alguns criticam muito o que os católicos tradicionais fazem. Esses críticos surgem principalmente em movimentos ditos "renovados" e que dizem ser um avivamento, uma chama nova dentro da Igreja que vem falar do amor de Deus que é infinito. Isso pode proceder, mas que tipo de amor é esse que vem cheio de ódio e discriminação contra seus próprios irmãos?
Coloco aqui que não é objetivo desse artigo condenar movimentos renovados, mas sim a mentalidade que muitos desses movimentos têm desenvolvido. Essa mentalidade marcada pela intolerância e pela divisão que por sí própria não tem o direito de existir dentro da Igreja Católica, que é universal e por isso tem mais que o dever de abrigar a todos os fiéis, sejam eles renovados, sejam eles tradicionais.
Por várias vezes já fui questionado, condenado (inclusive ao inferno) por pensar como penso. Mas quem será que está errado com tudo isso? Seria eu ou seriam esses verdadeiros hereges que se hospedam com cara de católicos dentro da Igreja massacrando os fiéis tradicionais. Vamos fazer abaixo uma pequena análise.

A Sagrada Escritura condena a divisão.

São Paulo em I Cor 3, 3-6 condena claramente a divisão e a contenda. Muitos querem defender que "no meu movimento temos um maior contato com Deus", "no meu movimento o Espírito Santo se manifesta mais", no meu movimento isso, aquilo... Quanta besteira! Estaria a Igreja errada por quase vinte séculos até que veio o milagroso Concílio Vaticano II para tirar esses erros? É claro que não! O Cristo prometeu a assistência do Espírito Santo todos os dias até o fim dos tempos (Cf. Mt 28, 20). Quem fala algo oposto a isso está oposto às Escrituras e quem poderia ter razão? As Escrituras, que são a Palavra de Deus, ou esses hereges? Não seria muita prepotência falar que se é mais sábio que o próprio Cristo, a sabedoria encarnada?
Essas heresias surgem, creio eu, numa tentativa desesperada de justificar a existência de um movimento ou outro, mas em nada levam em conta a Palavra de Deus. Muitos querem ainda ir mais longe. Não só querem extinguir a Igreja Tradicional como também querem torná-la "renovada". Isso não se faz! Nós tradicionais não estamos na Igreja Tradicional por falta de opção, estamos nela porque queremos fazer parte dela sem aderir as práticas dos outros movimentos. Isso é condenar os atos dos outros movimentos? Claro que não! É apenas uma falta de simpatia com as práticas, afinal, muitos são os movimentos mas um só é o Deus que instrui.
A partir do momento em que se forçar uma conversão em massa de toda a Igreja a um movimento X ou Y, deve-se pensar também em mudar o nome da Igreja. Esses hereges sequer conhecem o que significa ser católico e por isso têm essa atitude ignorante. O termo Católico significa Universal, ou seja, instituído para todos. Mesmo no judaísmo já se tem a noção de que Cristo foi importante para levar o monoteísmo ao mundo todo, ou seja, a várias pessoas diferentes. Pois bem, de cerca de cinquenta anos atrás até os dias de hoje, surgem novos "santos" repletos de soberba e prepotência, se intitulando os verdadeiros donos do Espírito Santo, ameaçando assim divisões dentro da Igreja. Se essas práticas forem levadas em consideração, é quase certo que haja um novo grande cisma. É isso que quer o Espírito Santo? Um novo grande cisma? Esses hereges sabem o que é cisma? Cisma é divisão!

Do direito de existência:

Mesmo no estado laico se sabe do direito de existência. Ninguém pede para nascer ou para ter um determinado carisma. Nosso nascimento vem totalmente sem nosso consentimento, pois não temos consciência para decidir se queremos ou não nascer. Da mesma forma, não escolhemos os carismas que teremos, pois quem os concede é o Espírito que conforme já mostrado, não nos exclui por isso, pois Deus nos ama exatamente como somos. Quem é então um ser humano, cheio de pecados, prepotente, imoral e arrogante para querer dimensionar quais são os carismas que teremos? Ao acaso isso está em poder do homem? É claro que não!
A Igreja Tradicional existiu por quase vinte séculos. A Igreja Católica deixa que existam até nos dias de hoje Ritos e Igrejas Sui Juris com tradições antiquíssimas, incluindo a tradução dos padres casados. Qual é então o motivo que leva esses hereges a quererem excluir a Igreja Tradicional? Ao acaso não temos nós também o direito de existir? O tradicionalismo não faz parte da história da Igreja? Existir a Igreja Tradicional é não só uma questão de fé, mas uma questão histórica.
Existimos há muito mais tempo que as frentes renovadas, temos toda uma história marcada pelo amor de Deus de forma igual a das frentes renovadas. Porque devemos ser extintos se Deus nos ama? É claro que isso não faz sentido assim como não faz sentido extinguir a frente renovada. Não faz sentido trazer um "avivamento" para as frentes tradicionais porque o Espírito já nos aviva na mesma intensidade, mas de maneiras diferentes.
Esses hereges se comportam exatamente como os protestantes, que insistem ser o povo eleito e que por isso tem que levar seu ponto de vista a todos. Isso não faz nenhum sentido, muito menos ainda em uma Igreja que é Universal. Entendeu? A Igreja é Universal e não Renovada ou Tradicional!
Se há alguém na Santa Igreja com essas idéias, não faz nenhum sentido que fique na Igreja, mas faz todo o sentido fazer como fazem os protestantes, ou seja, sair e fundar outra igreja., ajustada às suas vontades e não à vontade de Deus. Não há outro caminho, não há meio termo. São Paulo em Ef 4, 2-8 nos manda suportar-nos uns aos outros. Não faz nenhum sentido fazer algo contrário as Sagradas Escrituras.
Muito embora não seja eu da frente renovada da Igreja, exorto, pois a Rede Canção Nova que publicou essa passagem da carta aos Efésios (Cf. http://www.cancaonova.com/portal/canais/eventos/novoeventos/cobertura.php?cod=2232&pre=5816&tit=Suportai-vos%20uns%20aos%20outros).
Deixo a palavra de que estamos preocupados em cristianizar na verdadeira Igreja novas gentes, mas estamos brigando entre nós por besteiras? Como vamos trazer para nossa casa pessoas de fora se estamos causando desordem em nosso próprio território e pior, sem nenhuma necessidade?
Esse puxão de orelha vale também para os intolerantes da Igreja Tradicional. Se o Papa aceita as frentes renovadas, não temos que falar nada contra elas, mas sim aceita-las no amor de Deus e acolhe-las.
Certamente não é provocando essas contendas que seguiremos a vontade de Deus. Já cheguei a escutar inclusive que o Espírito Santo não age na Igreja Tradicional, mas queria saber onde estão as provas disso. Para quem afirma tal coisa, gostaria que me mostrasse então um milagre como o de Lanciano em seu movimento. Ou que tal se me mostrasse algo como as quatro Aparições de Nossa Senhora (Fátima, La Salette, Lourdes e Guadalupe)? Esses fenômenos não provam que o Espírito Santo está presente na Igreja Tradicional? E quanto a São Tomás de Aquino, o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos? Não nasceu e viveu ele na época onde só havia a Igreja Tradicional? Seria ele sábio se fosse vazio do Espírito de Deus?
Não há uma maior presença de Deus, de Cristo, do Espírito Santo ou de Nossa Senhora nessa ou naquela frente, pois Deus age em todos e por igual, por isso somos a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, que professa UM SÓ BATISMO para a remissão dos pecados! Comungamos todos do mesmo Cristo na Eucaristia, recebemos o Espírito por igual no Crisma, estamos igualmente imersos no Corpo Místico de Cristo através do Batismo. Então, se é assim, qual é o motivo para tanta guerra?

Pax et Bonvs!

Eduardo Moreira